Arquivos Lideranças - IBEAC http://www.ibeac.org.br/category/memoria-de-bordo/especial-36-anos/ Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário Tue, 10 Dec 2019 13:51:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.9.7 Gente Ibeac – Vera Lion http://www.ibeac.org.br/gente-ibeac-vera-lion/ http://www.ibeac.org.br/gente-ibeac-vera-lion/#comments Tue, 13 Dec 2016 19:49:01 +0000 http://www.ibeac.org.br/?p=317 Conheça um pouco da coordenadora de projetos do Ibeac Workaholic é apelido fichinha para ela....

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Conheça um pouco da coordenadora de projetos do Ibeac

Workaholic é apelido fichinha para ela. Às cinco da manhã, Vera Lion já está respondendo ou escrevendo e-mails. Sofro de uma insônia crônica. Daí no lugar de ficar rolando na cama, prefiro adiantar os assuntos, ela confidencia. Esse perfil de trabalhadora obsessiva e fora-do-expediente é comum entre as altas executivas da iniciativa privada.

No entanto, Vera Lion trabalha faz quase quatro décadas com projetos sociais. O tipo de atividade que tira o couro e o suor e não engorda a conta bancária. Mas dá uma satisfação danada ajudar na transformação das pessoas. Auxiliar uma comunidade a viver melhor é o objetivo de todo trabalho social, ela vai explicando enquanto confere mensagens no seu smartphone.

Vera Lion conhece a periferia de São Paulo como gente grande. E detesta a vida de gabinete. Apesar dos títulos acadêmicos – graduada em ciências sociais, com mestrado e doutorado em Serviço Social pela PUC—SP, ela gosta mesmo é de trabalhar na ponta, lado a lado com as pessoas. Gosta de saber dos cotidianos, de como as pessoas cuidam dos filhos, como fazem para matar um leão por dia, como se apaixonam, como aprendem.

Eu estudei num colégio para privilegiados. Aos fins de semana havia um programa de trabalhos voluntários na periferia. Pois eu adorava. Eu sempre tive curiosidade pelo outro, Vera explica. Esse outro tinha uma condição de vida muito diferente da menina moradora dos Jardins, bairro rico de São Paulo. A família chegou a pensar que ela queria ser freira.

Mas não era nada disso. O que ela desejava era um trabalho que desse sentido a suas inquietações e que respondesse ao seu espanto. Vera pontua: A desigualdade na sociedade brasileira é severa. Não é só desigualdade de classe. É entre homem e mulher, negro e branco, adulto e criança, nordeste e sudeste. É claro que eu não acredito em igualdade absoluta. Mas é insuportável conviver com o tamanho da nossa desigualdade. Quando já era mãe de três filhos – Marcelo, Camila e Juliana – Vera encontrou sua turma e sua praia.

Em 1983, começou a trabalhar no IBEAC – Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário, que teve com um dos fundadores o ex-governador de São Paulo André Franco Montoro (1916-1999). O momento político era de redemocratização. Os movimentos socais estavam a um milhão por hora depois de vinte anos de ditadura militar. A gente funcionava como uma espécie de ponte entre os movimentos e o poder público. Nossa lema era, e ainda é, toda força à participação popular, Vera resume.

Os trabalhos que seguiram foram intensos. Com o cargo de coordenadora do Programa de Direitos Humanos do IBEAC, ela e sua equipe rodaram boa parte do país, com destaque para a região amazônica. Fizeram oficinas de Formação em Direitos Humanos no Acre, Roraima, Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá. Ela conta: Muita gente viajava três dias de barco para participar das nossas oficinais. Compareceram líderes indígenas, representantes de grupos de mulheres, grupos de jovens. Foi extremamente gratificante conferir o resultado. Teve quem descobrisse seus preconceitos. E, principalmente, as pessoas se informaram acerca dos próprios direitos e dos direitos da comunidade.

Informação é ouro. Pessoas informadas são menos vulneráveis, menos manipuladas. Só é possível exigir que os direitos sejam cumpridos se você souber quais são eles. Vera conta: Eu sonho com a construção de uma cultura de direitos. Uma cultura na qual o respeito pelo outro seja quase natural. O outro pode ser a travesti, o idoso, a lésbica, o cadeirante, o analfabeto, o semianalfabeto, o gay, a menina com síndrome de Down, a mulher negra, o pobre. Todos esses segmentos que sofrem com o preconceito, o estereótipo e a discriminação. Os direitos humanos não são assunto de advogados, eles dizem respeito a cada um de nós. Precisamos ter postura digna no trato das relações sociais.

Relação é uma palavra chave no universo de Vera Lion. Ela explica: Tudo está conectado. A sociedade se estrutura em relações: familiares, de gênero, de raça, de classe, entre outras. Não adianta um homem ser um ótimo trabalhador e bater na mulher. Não adianta uma mulher ser uma profissional brilhante e berrar com os colegas. Temos que nos esforçar para sermos corretos e consistentes. Eu acredito nisso.

Outra aposta de Vera é no poder da juventude. Gosto de trabalhar com os jovens, pois eles querem mudar as coisas. São muito criativos e animados. Além de serem multiplicadores naturais. Um jovem ouve mais um outro jovem do que a um adulto. Acredito que o jovem não é o futuro. Ele é o presente, o aqui e o agora.

São sete e meia da manhã, Vera Lion vai encerrando a entrevista. Terá uma longa jornada pela frente em um lugar bem distante da Vila Madalena, onde mora. Hoje o trabalho será com um grupo de mulheres que estão se organizando, em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, para discutir e enfrentar a violência doméstica – esse terror que segue pelo Brasil inteiro.

Mas antes ela arranja dois minutinhos para mostrar no seu celular os retratinhos dos netos: Esses são os meus meninos: Pedro, Daniel, Lucas, André e Stela.

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É do Ibeac http://www.ibeac.org.br/e-do-ibeac/ Tue, 29 Nov 2016 13:21:50 +0000 http://www.ibeac.org.br/?p=298 Conheça a pedagoga e coordenadora de projetos do Ibeac Bel Santos Mayer. Por seu trabalho...

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Conheça a pedagoga e coordenadora de projetos do Ibeac Bel Santos Mayer. Por seu trabalho em Parelheiros, foi homenageada na Brazil Foudation – 2016

Militância precoce
Bel Santos: “Sou uma alfabetizadora, estou na área social desde os 14 anos. Nessa época, meus amigos e eu criamos uma casa de acolhida para meninas, no bairro em que morávamos”, diz Bel, de 49 anos, casada há dez com o alemão Bernd Mayer, gerente de projetos de parcerias público-privado na Câmara de Comércio Brasil-Alemanha. Bel, nascida Isabel, em 1967, é filha de um metalúrgico e de uma empregada doméstica ‘nunca registrada’, frisa ela. “Quando eu era adolescente, comecei a militar, trabalhando com jovens marginalizadas. Meus pais eram contra, ficavam com muito medo de ver a ‘menina deles’ em meio a tiros e violência policial – coisas que conhecemos bem”, relembra ela. Anos se passaram até que os pais aceitassem a área de atuação de Bel.

Aos 17 anos se formou no ensino médio e no magistério. Prestou concurso para a Secretaria Municipal de Educação, onde trabalhou por 14 anos, no início conciliando com a graduação em Licenciatura em Ciências Matemáticas. Aos 27 anos, ganhou uma bolsa para cursar Metodologias Pedagógicas com especialização em Pedagogia Social, na Itália, onde passou dois anos. “Quando fui viajar, meus pais não tinham nenhuma militância. Com a distância, meus amigos ficaram bem próximos a eles. Acredito que foi crescendo o orgulho de serem meus pais, quando voltei, eles já militavam”, conta Bel, orgulhosa dos pais Miguel e Dorinha, que atualmente trabalham voluntariamente em várias ações, como um clube de mães e uma casa de apoio a idosos.

As histórias se cruzam
Em 1997, a história de Bel cruzou com a do Ibeac. Segundo ela, o instituto queria alguém que conhecesse a Educação por dentro, para atuar em Belém do Pará. “Cheguei para constituir uma equipe de Direitos Humanos. De 1997 a 2001, o Ibeac oferecia formação e apoio para a criação de centros de documentação em Direitos Humanos, na Região Norte do país”, relembra. “Lá, o foco era mobilização a partir de conselhos escolares. Por minha experiência na Educação, o Ibeac me convidou para substituir uma pessoa da equipe – fiquei para sempre.”

Segundo Bel, o Ibeac sempre atuou em três linhas: Informação, Mobilização da Comunidade e Intervenção. “Procuramos criar algo que possa ser autogerido. Na década de 1990, vimos que biblioteca é algo emblemático, é um lugar de encontro, de um tipo diferente de empoderamento, distante do debate cultural. É uma reivindicação pela leitura, o jovem que está associado à biblioteca ganha outra visão”, crê Bel, que acrescenta: “Criamos três bibliotecas: Solano Trindade, Livro Para Que Te Quero, e Cemitério da Colônia.” Sim, em um cemitério, de verdade! A biblioteca no lugar mais inusitado do mundo foi inaugurada em 2009, no Bairro de Parelheiros, na Zona Sul paulistana. “No início funcionava em um posto de saúde, mas um dentista chegou para ocupar a sala e fomos para a casa do coveiro, que estava vaga.” E o lugar é bem aproveitado: tem até o Sarau do Terror, que funciona em meio aos túmulos! Quem se aventura? “Aquilo que poderia ser motivo de constrangimento e medo para os jovens, virou motivo de orgulho: ocupar um espaço inusitado associado à morte, com literatura viva, alegria e poesia”, orgulha-se Bel.

O apoio da BrazilFoundation
Em 2015, a BrazilFoundation começou a apoiar o Ibeac, através do Projeto Sementeiras do Direito, que trabalha o enfrentamento da violência e cuidados nas comunidades. “Dentro da biblioteca, os jovens faziam um ‘Top 10’, uma espécie de concurso para eleger a menina mais safada. Através de ameaças, eles faziam as garotas tirarem fotos íntimas, e depois compartilhavam as imagens entre si”, lamenta Bel. “O grupo começou a pensar estratégias para combater esses abusos. As meninas tinham que encontrar dez maneiras para serem mais feministas, e começaram a ver como elas estavam vulneráveis a situações de violência.” Com o apoio da BrazilFoundation, foi criada a Casa do Brincar, onde adolescentes brincam entre elas e com crianças. “É uma experiência que está dando muito certo, depois disso também entramos no Outra Parada – iniciativa pioneira no setor social brasileiro, focado no financiamento de iniciativas informais. Apoiamos três organizações a fortalecerem seus projetos.” Foram escolhidos o ‘Teatro de Barros’, que leva a poesia de Manoel de Barros e Carolina Maria de Jesus para as ruas; a ‘Brechoteca’, roda de cuidado e proteção das mulheres dentro das bibliotecas; e o ‘Núcleo de Jovens Políticos’, que se encontram para discutir e pensar política.

Parelheiros, o referencial
Segundo Bel, os planos do Ibeac para a próxima década estão ligados diretamente ao desenvolvimento de Parelheiros. “Chegamos a Parelheiros em 2008, com o plano de ficarmos dez anos, contribuindo para a formação de um grupo que se tornasse referência dentro das suas comunidades. Passaram-se oito, esse grupo de jovens existe, a biblioteca existe, as sementeiras existem – e o nosso propósito é dar esse poder, importante para grandes transformações.” Para que esse poder seja dado, o Ibeac planeja atuar em várias áreas dentro da região: fortalecer um grupo de mulheres, que seja de acolhida, de construção de estratégias de enfrentamento ao machismo e outras violências. “E também um grupo de mulheres que contribua para a transformação de Parelheiros em um lugar do bem viver e nós estamos falando do bem viver enquanto espaços culturais, educacionais, alimentares”, destaca.

Além de fortalecer as Sementeiras de Direitos, o Ibeac planeja que a biblioteca seja reconhecida como uma política pública do município de São Paulo. “Nós já somos um ponto de cultura, queremos que possa ter fomento cultural, ser um equipamento que funciona junto com a rede municipal de bibliotecas.” O Ibeac planeja ir além, Bel afirma que a organização quer conseguir interferir na questão da alimentação a partir das plantas comestíveis que existem na região, dos frutos tradicionais: açaí e cambuci. “Nosso projeto mais recente se chama Sementeiras Colhendo Açaí e Cambuci.” Além disso, o Ibeac quer que Parelheiros se transforme em um centro de excelência no tratamento das crianças. “Queremos ser um centro de referência em relação à perspectiva para o futuro, que Parelheiros possa ser uma região que cuide muito bem do futuro para as crianças, mulheres e jovens. Isso significa cuidar do ambiente, das crianças, das mulheres e construir espaços para novas relações.”

Foi bonita a festa pá”. Obrigada Brazil Foundation! Obrigada equipe Ibeac! Obrigada família! Que este reconhecimento amplie as oportunidades em Parelheiros – Bel Santos Mayer

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